Sexta-feira, 10 de Março de 2006
Decorrido quase um século e meio sobre a manifestação que, em Nova Iorque teria como consequência a morte de 129 operárias de uma fábrica, muitas continuam a ser as razões para que as mulheres continuem a lutar contra a discriminação
Em 1857, um grupo de operárias têxteis de Nova Iorque, manifestavam-se contra a falta de condições de trabalho, pela redução do horário de trabalho e por melhores salários, tendo a manifestação sido violentamente reprimida pelas forças de segurança, o que levou as operárias a refugiarem-se dentro da fábrica onde morreram num incêndio ateado pelos proprietários.
Infelizmente, se olharmos para os dias de hoje, verificamos que as mulheres continuam a ser vítimas de injustiças e de desigualdades. Sendo as mulheres as mais atingidas pela precaridade e pelos baixos salários.
Em Portugal, apesar do número de mulheres (65,9%, em 2005) com formação superior ser mais elevado que o dos homens, estas apenas representam 36,2% dos quadros superiores. Por outro lado, em 2005, a taxa de desemprego oficial nas mulheres era de 9%, enquanto nos homens era de 7%, provando estes números que o desemprego, a precaridade e os baixos salários atingem mais as mulheres que os homens.
Até no que respeita à pensão média de velhice, calcula-se que em 2006, as mulheres portuguesas venham a receber cerca de 248, valor inferior ao limiar da pobreza.
Nos últimos anos temos assistido a um agravar dos ataques aos direitos e garantias dos trabalhadores, tudo isto, porque o neoliberalismo domina as medidas políticas do governo, que se subjuga aos interesses o grande capital, esquecendo os interesses do país.
Na verdade, fala-se de tanga, de crise, de necessidade de contenção, mas as políticas desenvolvidas apenas servem para agravar ainda mais o atraso em que o país se encontra e para aumentar o fosso entre ricos e pobres.
Ao mesmo tempo que a banca aumenta a percentagem de lucro em 42% (os três maiores bancos privados tiveram no ano passado um lucro de 1 258 mil milhões), os trabalhadores em geral, e as mulheres, em particular, vêem o governo desencadear gravosos ataques aos direitos e conquistas dos trabalhadores. Neste momento, não são apenas direitos laborais que estão em causa, mas acima de tudo direitos civilizacionais conseguidos ao longo de décadas de luta.
Se é verdade que a luta pela igualdade os géneros deve continuar, não é menos verdade que, perante os avanços das políticas neoliberais e dos interesses dos grandes grupos económicos, esta deve ser uma época de luta dos trabalhadores em geral
Se não lutarmos por mais e melhor educação; por mais e melhor trabalho; por mais e melhor saúde, por mais e melhor segurança social, certamente o nosso país continuará mergulhado no atraso.
Já tenho dito que não gosto de Dias Internacionais
acho eu a luta das mulheres por melhores condições de vida e de trabalho, deve ser diária e não se deve resumir ao dias comemorativos, contudo, este é sem dúvida, um dia em que se deve recordar também algumas portuguesas que muito lutaram para que a situação das mulheres de hoje fosse diferente da altura em que viveram.
Sem saudosismos, só nos faz bem relembrar a escritora e jornalista Maria Lamas; ou a ceifeira Catarina Eufémia assassinada por reivindicar pão, paz e trabalho; ou a jorgense Maria Machado (Rubina) que abandonou a pacatez da sua vida em São Jorge para se dedicar à luta contra o fascismo
Mas é também hora de relembrar muitos homens e mulheres, que permitiram que hoje possamos ter direitos tão elementares como o direito ao salário
E é em memória desses homens e mulheres que não devemos deixar que os governos que se têm subjugado aos interesses económicos prossigam os ataques aos direitos e conquistas civilizacionais, conseguidos pela luta de gerações e gerações de trabalhadores.